A vigília, que segue durante a madrugada, marca o aniversário de três meses do incêndio na casa noturna, que aconteceu no dia 27 de janeiro e causou a morte de 241 pessoas
Desde a noite de sexta-feira, familiares e amigos de vitimas da tragédia da boate Kiss se reúnem na Praça Saldanha Marinho, no Centro de Santa Maria (RS), para dar conforto uns aos outros e fazer orações. A vigília, que seguiu durante a madrugada, marca o “aniversário” de três meses do incêndio na casa noturna, que aconteceu no dia 27 de janeiro e causou a morte de 241 pessoas.
Pouco antes das 3h, parentes e amigos das vítimas organizaram uma roda de conversa, onde cada um foi convidado a fazer um relato do que sentiu em relação à perda que sofreu e como encarou toda essa situação. Foi um momento emocionante, em que todos puderam dividir sua experiência frente ao acontecimento trágico, em uma espécie de “terapia coletiva”. Cerca de 50 pessoas participaram. Houve familiares que vieram de fora de Santa Maria para participar, de locais como São Paulo (SP), Florianópolis (SC), Santo Ângelo (RS), Cachoeira do Sul (RS), Itaqui (RS), Uruguaiana (RS), São Borja (RS) e Alegrete (RS).
Um dos relatos foi da professora Helena Rosa da Cruz, mãe de José Manuel, 18 anos, e Mirella, 21, que morreram na tragédia. “Os dois saíram juntos do CDM (Centro Desportivo Municipal, para onde foram levados os corpos das vítimas) e vão ficar juntos para sempre. Se não for feita a justiça dos homens, a justiça de Deus jamais falha”, disse Helena.
O pintor Cezar Augusto Madruga Neves, pai de Augusto Cezar Neves, que morreu aos 19 anos, lembrou da noite em que seu filho saiu de casa para ir à Kiss. “Passei a camisa e calça do meu filho. Quando ele estava saindo de casa ainda disse que, se faltasse dinheiro para o táxi da volta, que ele me avisasse. Ele pulou a mureta na frente de casa e eu ainda disse ‘Vai com Deus, meu filho’”, relembrou o pintor, que acrescentou: “Não podemos nos calar”.
Os relatos foram interrompidos por volta das 3h20 deste sábado, horário aproximado em que teria começado o incêndio na Kiss. Os familiares se deram as mãos e rezaram um Pai Nosso. Depois, houve um minuto de palmas, em memória das vítimas.
Depois da pausa, as experiências de cada um continuaram a ser divididas até por volta das 3h50, quando o grupo cantou junto a música “Vem Renascer”, do padre Antonio Maria.
“Foi uma oportunidade ímpar de os familiares se reunirem e darem seus relatos. Eles estavam precisando disso, desse momento de interação. Isso demonstrou que nós precisamos fazer isso mais vezes”, avaliou o presidente da Associação de Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira.
Cerca de 30 familiares permaneceram na Praça Saldanha Marinho em vigília. Outros foram para casa, mas devem retornar às 8h, quando será feito o já tradicional “minuto de barulho” para homenagear as vítimas da tragédia com sinos das igrejas, palmas e buzinas. A concentração será na praça, mas as pessoas são convidadas a participar de onde estiverem.
Outro evento dos três meses da tragédia que tem a participação de familiares das vítimas é uma caminhada organizada pelo Movimento Santa Maria do Luto à Luta. O nome do evento, Meu Partido É um Coração Partido, é para destacar que a iniciativa é totalmente apartidária.
Na programação, haverá distribuição de panfletos na Praça Saldanha Marinho a partir das 16h30 deste sábado. Depois, às 17h30, também na Saldanha Marinho, começa a concentração para uma caminhada. Nesse momento, as manifestações serão permitidas somente para familiares das vítimas da tragédia.
Para 18h30, está marcada a saída da caminhada até a Basílica da Medianeira. No trajeto, serão colocadas fitas pretas nos postes e nas árvores de um dos lados das vias do percurso, para simbolizar o luto. Do outro lado, serão amarradas fitas brancas, em referência à paz que os manifestantes estão buscando. Serão 241 fitas no total, em alusão ao número de vítimas da tragédia.
A missa na Basílica da Medianeira começa às 20h. Durante o sábado, haverá celebrações religiosas alusivas à tragédia em outras igrejas de Santa Maria.
Fonte:Terra