Associação que administra praia de naturismo no Litoral Norte da Bahia quer impedir sexo na areia da praia.
Imaginem um paraíso de dois quilômetros de extensão.
Agora, imaginem esse paraíso transformado em um campo de batalhas.
Agora, imaginem todos os soldados destas batalhas sem roupa,
completamente nus. Está acontecendo em Massarandupió, a 93 quilômetros
de Salvador. Pelo fim do sexo na faixa de areia, naturistas tradicionais
têm lutado contra a presença de casais que praticam suingue e contra
festas liberais na localidade.
Famosa no mundo inteiro pela prática do naturismo,
Massarandupió é palco de uma contenda que envolve dois ou, a depender do
ponto de vista, mais lados. O grupo que hoje administra a praia, a
Associação Massarandupiana de Naturismo (Amanat) acusa as pousadas e
outros estabelecimentos de incentivarem o sexo, inclusive na praia.
No dia 30 de abril, um casal chegou a ser preso e
levado para a delegacia de Alagoinhas por uma guarnição da 56ª Companhia
Independente da Polícia Militar (CIPM/Entre Rios). Depois do fato, a
Amanat intensificou o combate ao sexo em público e notificou o
Ministério Público. O MP, então, convocou audiência para hoje e pediu
que a prefeitura elaborasse um projeto de lei para regulamentar a
prática.
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| (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) |
Despido de preconceitos, o CORREIO visitou a praia
de naturismo. Às margens da lagoa contígua à praia, o presidente da
Amanat, César Xisto, ataca as pousadas liberais. “O principal inimigo do
naturismo é o comércio do sexo. E esse comércio está crescente em
Massarandupió. Eu vou lutar contra isso até o fim. Nosso objetivo é a
erradicação da prática do sexo aqui”, avisa, apontando para as placas
com as regras de convivência.
César quer mais policiamento na praia e defende a
criação de um projeto de lei municipal para regulamentar o funcionamento
do naturismo. Um anteprojeto já existe. Elaborado pela procuradoria de
Entre Rios, ele será apresentado na audiência de hoje, às 14h. “As
principais propostas são a proibição de eventos com conotação sexual e a
proibição do nome naturismo em pousadas liberais”, explica o procurador
Brígido Nunes Neto.
'Sexo aqui não’
Um decreto municipal de 1999 autoriza a prática do naturismo. Além do código de ética, tanto na praia quanto na lagoa, placas deixam claro as regras: “Sexo aqui não!”. O lema da Amanat resume bem os princípios: naturismo familiar, ecológico e ético. Para esquentar ainda mais a celeuma, as duas únicas barracas que funcionam na praia naturista rivalizam em relação ao tema.
Um decreto municipal de 1999 autoriza a prática do naturismo. Além do código de ética, tanto na praia quanto na lagoa, placas deixam claro as regras: “Sexo aqui não!”. O lema da Amanat resume bem os princípios: naturismo familiar, ecológico e ético. Para esquentar ainda mais a celeuma, as duas únicas barracas que funcionam na praia naturista rivalizam em relação ao tema.
Separadas por menos de 100 metros, uma defende os
princípios do naturismo ao qual César faz parte. A outra, ao que parece,
acredita que se possa conviver com o suingue. “O problema é que isso
não acontece. Parte dos casais não se priva do exibicionismo”, destaca
César. O proprietário da Barraca do Juvenal concorda. “Algumas pessoas
têm uma visão deturpada do naturismo. A questão sexual está muito
avançada aqui”, diz Jânio Gonçalves, 32 anos.
O dono da Barraca do Chef Eládio, ao lado, se negou a
falar. Além da prefeitura e do MP, a polícia também entra na briga.
“Existe um grupo adepto à prática do naturismo e um ligado ao turismo
sexual. Se for área pública, não vamos permitir sexo. Se todos
respeitarem isso, todos podem conviver bem”, diz o major Ivan Paulo,
comandante da 56ª CIPM.
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| (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) |
O outro ladoMas
muitos dos acusados pela Amanat se defendem. Além de acreditar que a
prisão do casal foi forjada, quem acolhe os hóspedes argumenta que não
pode abrir mão deles. Além disso, dizem que os frequentadores costumam
manter o respeito na praia. “Orientamos eles a cumprir as regras fora
daqui. Só não posso obrigá-los a não fazer sexo”, diz a dona de uma
pousada, sob anonimato.
“Isso é ridículo. Somos totalmente contra o sexo
explícito na praia. Eles é que querem desvirtuar”, diz Davi Andrade,
dono do Espaço Liberdade.
Há quem defenda os dois lados. “Muita gente
desvirtua. Aqui não é lugar de sexo”, defende um visitante, que costuma
ir ao local com a esposa e o filho. “Eu não me privo de, dentro do maior
respeito e distante das famílias e outros frequentadores, ter uma
relação completa”, admite outro.
Termo
A Amanat também considera que algumas pousadas utilizam o termo “naturismo” de forma desvirtuada. “Essas pousadas não podem usar a palavra ‘naturismo’ em seus letreiros. Está errado. Naturismo não tem nada a ver com troca de casais”, explica César Xisto que, dos seus 72 anos, já dedicou 52 ao naturismo.
A Amanat também considera que algumas pousadas utilizam o termo “naturismo” de forma desvirtuada. “Essas pousadas não podem usar a palavra ‘naturismo’ em seus letreiros. Está errado. Naturismo não tem nada a ver com troca de casais”, explica César Xisto que, dos seus 72 anos, já dedicou 52 ao naturismo.
A Amanat também bate de frente com as pousadas que
realizam festas com trocas de casais, a exemplo do Forró Nu, sucesso ano
passado e com segunda edição marcada para 17 de junho. “Aqui é um
ambiente privado. Os casais que aqui frequentam respeitam as regras da
praia”, defende-se Davi Andrade, o organizador.
A guerra parece não ter data para acabar. Enquanto
isso, César Xisto recorre ao Código Penal. “O Artigo 233 define como
atentado ao pudor esse tipo de prática em área pública”. O outro lado
pondera. “Ele não pode chegar aqui e querer mandar em tudo. Ele tirou
nossa paz”, diz o dono de uma pousada.
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| Miguel Calmon Gama é presidente da Abanat (Foto: Jefté Rodrigues/CORREIO) |
‘Sempre convivemos bem’, diz criador de áreaUm
dos fundadores da praia de naturismo de Massarandupió discorda da
postura da Associação Massarandupiana de Naturismo (Amanat). Ele
acredita que a atual gestão está “criando uma celeuma onde não existe”.
O naturista Miguel Calmon Gama, 68 anos, que também é
presidente da Associação Baiana de Naturismo (Abanat), diz que o
naturismo sempre conviveu bem com os praticantes do suingue: “Sempre
existiu isso e sempre convivemos bem. Basta estar aberto ao diálogo e
conversar com o pessoal. No caso de um casal mais exaltado, chama-se a
atenção e pronto. Não precisa de nada disso”.
A Amanat e a Abanat são filiadas à Federação
Brasileira de Naturismo (FBRN). Em 2014, a Amanat passou a gerir o
espaço, tendo César Xisto como presidente. Já Miguel Gama tornou-se
presidente da Abanat.
Sobre a criação de um projeto de lei que regulamente
o funcionamento da área naturista, Miguel também não vê necessidade.
“Para que lei municipal se já existe um decreto? Estamos protegidos. A
não ser que tenha algo por trás de tudo isso. Acredito que ele esteja a
serviço de uma grande corporação que quer criar um resort em
Massarandupió. Seria o fim do naturismo na Bahia”, declara.
Fonte:Correio da Bahia


